domingo, 25 de novembro de 2001

ETAPA 5: VILA VERDE DOS FRANCOS (ALENQUER) - MAFRA - 25NOV01

ETAPA N.º 5

Entre: VILA VERDE DOS FRANCOS (ALENQUER) E MAFRA

Data: 25 de Novembro de 2001

PARTIDA PARA A ETAPA

Local de Partida: Vila Verde dos Francos (Alenquer)

Data / Hora: 25 Novembro de 2001: 10h15'

2. DADOS SOBRE A ETAPA

Estado meteorológico: tempo seco, dia solarengo, céu limpo, vento fraco (inferior a 15 km/h)

Locais Percorridos: [Alenquer] Vila Verde dos Francos, Casais da Fonte Pipa, Serra Galega, Casal das Pedreiras, [Torres Vedras] Bocal, Runa (imediações), Figueiredo, Cadriceira, [Mafra] Srª do Socorro, S. Sebastião, Terroal, Jeromelo, Abrunheira, Alcainça, Arrifana, Carapinheira, Mafra

Concelhos Percorridos: Alenquer, Torres Vedras e Mafra

Distritos Percorridos: Lisboa

Tipos de Piso Percorridos: asfalto, terra, relva, pedra

Outros Elementos do Grupo: Pedro Roque Oliveira, João Pimpão, Henrique Almeida, Paulo Ruivo, Pedro Ruivo, Luís Parreira, Carlos Martins, Rodrigo Pacheco

Distância: 55 Km

Média Quilométrica: 15 Km/h

Velocidade Máxima: 60 Km/h (na descida da Srª do Socorro)

Tempo Efectivo Deslocação: 3h41'

Cartas Militares n.º(*): 362, 375, 388, 389, 402

3. CHEGADA

Local de Chegada: Mafra (Mafra)

Data / Hora de Chegada: 25 Novembro 2001, 15h15

4. TRANSMISSÃO DE TESTEMUNHO

Testemunho Transmitido a: Fernando Carmo (manutenção do testemunho)

Em (local): Porta principal do convento de Mafra

Data / Hora: 25 Novembro 2001, 15h15

5. RELATO DETALHADO DA INCURSÃO (sem limite de linhas, incluir, sempre que possível, relatos de outros estafetistas):

Estafeta V@ Caracterização da Etapa nº 5

Por Fernando Carmo

Sabíamos que seriam cerca de 55Km, caracterizados por uma invulgar dificuldade, face às dificuldades provocadas pela inclinação das muitas pendentes a vencer, e, aqui e ali, por um piso extremamente pedregoso. A anunciada dureza do percurso, afastou da partida muitos dos candidatos. Assim restaram nove, vindos de Abrantes, Sintra, Mafra, Lisboa e Almada. O dia estava solarengo e limpo, convidando a deixar de lado a roupa mais quente.

Eram 10h15 quando partíamos de Vila Verde dos Francos, depois das fotos da praxe à porta da igreja local. Ainda nem 1 Km tínhamos percorrido, e já iniciávamos a primeira subida. A pedra abundante e o terreno solto, levava-nos à Serra da Galega, onde durante alguns quilómetros convivemos, em pleno planalto, com os inúmeros moinhos de vento, característicos da região. Cruzámos então a divisão concelhia entre Alenquer e Torres Vedras, ao longo da qual pedalámos durante alguns quilómetros.

Referência apenas para uma subida, junto à povoação de Orjariça. Uma autêntica parede, em relva, cuja ascensão em 22*32 obrigou a um enorme esforço, com os braços em plena actividade, no sentido de, não só auxiliar a pedalada, como também para evitar o levantamento da roda dianteira.

Descemos de seguida a Runa, com o majestoso edifício do Asilo dos Inválidos Militares como referência, cruzámos o rio Sizandro e a linha de caminho de ferro que o bordeja. Ao cruzar esta via férrea, encontrámos a Qta da Porticheira e uma dura subida até ao Delta Maravilha. Entrámos numa zona de planalto, sem dificuldades de maior a registar, e com uma paisagem assombrosa. Com a A8 à vista, chegava a hora de inflectir caminho. Tínhamos agora a oportunidade de cruzar inferiormente esta via rápida que liga Lisboa a Torres Vedras, junto à povoação de Cadriceira, no sopé da Serra do Socorro. Não foi fácil descer naquele caminho. É uma descida que mescla o rápido e o técnico, de piso difícil onde a aderência e a travagem são manobras complicadas. Mas chegámos a Cadriceira sem novidade. Ali. No sopé da serra, o sol do meio-dia, e a visão da majestosa “borbulha” que sobressai nos cumes vizinhos levaram-nos a parar para um pequeno reabastecimento.

Parecia assustador, mas tratavam-se de apenas 2Km, ainda que muito íngremes, com pedra solta e vegetação rasteira a dificultar, e muito, a nossa tarefa. Ainda para mais, já tínhamos uns quilómetros bem acesos nas pernas! Mas chegámos! A vista era magnífica, a partir desta ermida que data dos séculos XII/XIII, tendo sido reedificada nos séculos XV/XVI.

A capela da Srª do Socorro marca uma nova transição concelhia. Do concelho de Torres Vedras passávamos a Mafra. Fizemos as fotos da praxe, reagrupámos, e demos dois dedos de conversa com um casal que se entretinha nesta forma de turismo alternativo, usufruindo, também eles das suas bicicletas.

Agora vinha a rápida e perigosa descida. Havia alguma areia, especialmente nas curvas fechadas com o pavimento em calçada! Felizmente não houve excesso, nem incidentes, pelo que todos chegámos sem incidentes.

Acercava-se outra enorme dificuldade! Havia que transpor uma elevação, mas o caminho era perpendicular às linhas de cota, conferindo um aspecto terrível à tarefa. Lá conseguimos subir os diversos topos, ainda que quase caindo para trás! Foi necessário quase que encostar o peito ao guiador, cerrar os dentes e fazer força, muita força! Mas... lá em cima valia a pena. Será talvez um dos locais mais belos deste espantoso troço, aquele que passa entre as duas Enxaras, a do Bispo e a dos Cavaleiros! Ah. E se estas terras falassem! Diriam que, outrora, por aqui passaram com outras montadas cavaleiros envolvidos noutras empresas, e que D. Manuel I lhe concedeu foral em 1519.

Mas o tempo para contemplações não abundava! Logo outra subida! Agora para Jeromelo, o piso verde, relvado, que subia pelo vale. A paisagem sublime, uma vez mais! De novo descer rápido, para novamente voltar a subir! Mas desta feita o ânimo renascia, pois sobressaiam no horizonte, e mais próximos, os geradores eólicos da Serra do Funchal e o muro da Tapada Real de Mafra. As grandes dificuldades estavam ultrapassadas. Apenas nos separavam de Mafra uma ascensão junto a Abrunheira e outra para atingirmos Carapinheira, mas coisas de pouca monta.

E... Já estava... Faltavam 2 Kms de asfalto para o majestoso convento nos enquadrar a satisfação por mais uma etapa cumprida. Esperava-nos o Rui Sousa, cujo despertador atraiçoara, e por esse motivo não nos acompanhou! Certamente com pena, trocou as rodas grossas por finas, e rumou ao nosso encontro, imortalizando pela imagem aqueles que cumpriram mais uma etapa deste projecto. Foram eles Carlos Martins, Fernando Carmo, Henrique Almeida, João Pimpão, Luis Parreira, Paulo Ruivo, Pedro Roque Oliveira e Pedro Ruivo.

Para informações genéricas sobre a região, consultar:

www.cm-mafra.pt

www.cm-tvedras.pt

www.monumentos.pt

JANELA INDISCRETA (por APRO)

ERA UMA VEZ...

Era uma vez uma etapa tão dura que só foi disputada por bicicletas HT... Onde é que eu já li isto anteriormente? Não me recordo, porém é a mais pura das verdades! ;-)

QUALIDADE

A qualidade de uma etapa pode também ser medida pela lista oficial de "baldanços": nada mais nada menos que dois colunáveis com receio das subidas (o "B" de Leiria e o "B" de Miraflores :-) e, pasme-se, o RS, com medo das descidas! De nada lhe valeu ter-nos recebido, no final, em Mafra na sua bicicleta com slicks montados. Já se perdem na memória os "flops" desta, outrora promessa, do ciclismo de montanha nacional :-). Por que será que este rapaz nunca desperta cedo? ;-)

EMPRESA DE CAMIONAGEM PIMPÃO, LDA.

Deu um jeitão a boleia para as bicicletas na camioneta do irmão do João Pimpão. Grande parte do problema logístico ficou, logo ali, resolvido. Grande Pimpão!

LEBRES BIANCHI

O Henrique Almeida apareceu com uns amigos, dois irmãos, montados em Bianchis topo de gama (HT claro está). Os "tipos" tinham um andamento diabólico e foram, em parte, responsáveis pelo ritmo diabólico que foi imprimido a esta incursão. Sem embargo a quilometragem em função da altimetria fez com que um deles, esgotadas as "baterias" sofresse uma série de cãimbras.

CHUVA PESADA

Apesar do sol ainda choveu. É verdade, não água, mas chumbo de um par de tiros dirigidos a uma sobrevoante perdiz que caíram por cima de nós. Não há pachorra :-(

PARA TODOS OS GOSTOS

Para quem gosta de descer este também foi uma grande incursão. Que o diga o Rodrigo Pacheco que, às páginas tantas, na descida do planalto para a passagem inferior da A8, vê a sua bicicleta no chão e tem de correr os 100 metros montanha abaixo para não se ver confrontado com o solo pedregoso. Só visto! De resto só uma atenção redobrada evitou alguns dissabores à maioria nas técnicas descidas do percurso...

SOCORRO, TIREM-ME DESTE FILME!

O ponto alto da incursão foi, como se esperava, a ascensão ao santuário de Nossa Senhora do Socorro, no topo da serra do mesmo nome. A um desnível desumano aliava-se um piso péssimo. Uma espécie de "irmã mais velha" da mítica subida de S. Luís no Parque Natural da Arrábida. Houve quem, prudentemente (Luís "Duracell" Parreira), a contornasse e aguardasse os restantes no final da descida de empedrado. Poupou-se o suficiente para poder resistir até ao final. Vê se curas essa gripe!

LA DULCINEIA DEL JEROMELO

O tempo esteve magnífico com um sol radioso e ausência de vento sugerindo mais a Primavera do que um Outono já "entradote". Tal facto pregou algumas partidas aos "9 magníficos" ao nível da reserva de água. No meu caso, como entendo que as gramas extra são inimigas do bom desempenho reduzi as recargas de água ao mínimo previsível. No entanto, após Enxara do Bispo, o precioso líquido esgotou-se-me e havia ainda um enorme desnível a vencer até ao Jeromelo. Cheguei lá acima com uma sede enorme. Naquela povoação uma visão magnífica: uma donzela, singela mas formosa, deu-me de beber. Ao meu "obrigado" respondeu com um sincero sorriso. Afinal Portugal ainda é verdadeiramente uma caixinha de surpresas! ;-)

OS HERÓIS TAMBÉM SE ABATEM?

A dada altura, o João Pimpão, sobejamente conhecido por todos por ser uma espécie de "força da natureza" pedalante, começou a subir mais devagar e a dizer que estava farto. Tal facto, conjugado com a ilustre lista de "baldanços", torna indesmentível aquilo que já se previa: esta foi a mais dura jornada da Estafet@ (até ao momento, claro está)!

O HOMEM DA MARRETA

Esteve omnipresente nesta incursão, todos demos pela sua presença, uns mais, outros menos. Ainda assim um dos "Lebres-Bianchi" e o FC (hoje literalmente "fémur comprido") terão sido, provavelmente, os menos incomodados. Pessoalmente fui doseando, como pude, o esforço e ao fim senti-me bem e consegui ser rápido nas derradeiras mas demolidoras ascensões, ainda assim, nada mau!

E AS "PIADAS TARDIAS"

As referentes às minhas pastilhas "Isostar" que, não só não se adquirem na farmácia, como estão ao alcance de qualquer mortal, numa simples prateleira de hipermercado. Numa incursão deste tipo há que manter constantes os níveis de açúcar e sais no sangue, caso contrário o corpo prega-nos uma partida desagradável. Além disso, quem não tem cão caça com gato e, como não consigo efectuar as subidas "à maluca" como alguns ;-), tenho de dosear bem o esforço, manter a pulsação em níveis "legais" (tirando a socorrística serra) e o resto vem mesmo do condicionamento virado essencialmente para o endurance e as longas distâncias. É a aplicação prática da fábula da "Cigarra e da Formiga" ou se quiserem de, "quem ri por fim, ri melhor". Em suma eu não estava a andar mais depressa no final, estava a andar o mesmo, os outros é que estavam mais lentos. Esta malta não pode ver uma camisa lavada :-))).

MAIS UMA ZELOSA FUNCIONÁRIA

Conseguir chegar ao Convento de Mafra após uma travessia desta dureza deixa qualquer um entusiasmado. Nem o excesso de zelo da funcionária da Igreja do Convento a dizer-nos, insistentemente, que não poderíamos estar ali (em frente à entrada da basílica) com as bicicletas nos fez perder a paciência. Estive ainda tentado a dar a "resposta-padrão" para estas situações - "afinal não são só os cães que não gostam de ciclistas!" mas, a sensação de "detente" que se obtém após um desafio deste tipo, aliada ao facto de, apesar dos modos, ser uma senhora e de estar um resplandecente dia de sol, fez-me dizer-lhe apenas secamente - "viemos em peregrinação!", voltar-lhe as costas e posar para o inevitável momento fotográfico! Prémio limão para a referida "administrativa" :-(

DELTAS, MOINHOS, ANTENAS E MIRADOUROS

É aquilo de que esta incursão foi farta, de tal modo que já nem lhes ligávamos patavina. De qualquer modo não os consigo quantificar, apenas sei que eram muitos :-)

QUEBRADO O ENGUIÇO

Esta quint@ etapa parecia que estava enguiçada. Primeiro as previsíveis dificuldades logísticas, depois a dureza das inúmeras ascensões e depois a tripla jornada de reconhecimento. Finalmente tudo culminou da melhor forma. Para além das boas memórias ficará uma segunda feira típica de coxas pesadas. Venha a 6@ e 7@ por favor. Agora, até Olissipo tudo é bem mais fácil!

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Data: 26 Novembro 2001

Relator: Fernando Carmo (integração do texto Janela Indiscreta de Pedro Roque)